Resenha: O Fio

Tessalônica, 1917. No momento do nascimento de Dimitri Komninos, o fogo devasta a cidade multicultural onde cristãos, judeus e muçulmanos convivem. Cinco anos depois, a jovem Katerina foge para a Grécia quando sua casa na Ásia Menor é destruída pelo exército turco. Ao se perder da mãe em meio ao caos, ela acaba em um navio cujo destino é desconhecido. Desde esse dia, as vidas de Dimitri e Katerina se entrelaçam: entre si e com a história da cidade. Fruto de uma pesquisa meticulosa, O fio tem como cenário a tortuosa história política da Grécia no século XX. A narrativa emocionante de Victoria Hislop — também autora de A ilha e O retorno — une ficção e história ao contar a saga de duas famílias na segunda maior cidade grega.

Em uma Grécia antiga o destino de várias famílias se cruza no meio de um cenário de desastre. Após uma catástrofe na sua cidade natal, Katerina parte em um barco para Tessalônica junto com uma desconhecida, enquanto sua mãe é enviada para Atenas. Já em Tessalônica, Olga e Konstantinos estão passando por dificuldades, já que uma tragédia também se abateu ali. Em meio a tanta calamidade, a vida de Katerina se entelaça com a de Olga, Konstantinos e da família Moreno. A partir desse encontro, a história de uma modista do início do século XX começa a envolver o leitor, mostrando exemplos de amizade, solidariedade e carinho em tempos de mortes e muita guerra.

Escrever a resenha de um livro como O Fio é um tanto difícil. Victoria Hislop tem um talento notável. Essa obra é a prova que uma pesquisa árdua pode chegar a um resultado excelente, juntamente com a criação de personagens tão singulares e cativantes. Em meio a um cenário de tanta tragédia, fiquei torcendo por um final feliz, e a autora não me decepcionou.

A narrativa é um ponto da história que merece muito destaque. Ao chegar a página cem imaginei que muitos fatos já haviam ocorrido e o ritmo de leitura iria diminuir. Fui enganado, felizmente (risos). Victoria fez em pouco mais de 350 páginas o que muitos autores não conseguem em 600. A trajetória do livro transcorre mais de sessenta anos até o fim. Isso foi importante, pois a história do país, as guerras e revoluções que ocorreram naquela época estão relatadas na trama. Vale lembrar que todos os fatos são verídicos, e só os personagens fictícios.

Katerina, Eugenia e suas duas filhas gêmeas foram acolhidas de modo carinhoso pelas pessoas da Rua Irini. Em um mundo que ser solidário está cada vez mais raro, imaginem como é ver isso em um livro? Mesmo sendo algo fictício, foi prazeroso vivenciar a relação que todos os vizinhos tinham ali. O amor que a pequena Katerina criou pela costura tornou a leitura menos densa. A história gira em torno desse ofício, e pode parecer inútil, mas fez toda diferença.

O Fio, editora Intrínseca, é uma história que guardarei no coração. Victoria reuniu elementos tão importantes num livro só que fica difícil não gostar. Apesar de não ser um amante de história (confesso que era minha pior matéria na escola), tive que fazer uma breve pesquisa sobre alguns assuntos para entender melhor o livro. A pacata vida de todos os personagens em Tessalônica, em meio a turbulências da guerra e nazismo, exemplifica que apesar de qualquer diferença cultural e religiosa, as pessoas podem e devem ajudar umas as outras. Recomendadíssimo! 

Título: O Fio
Autora: Victoria Hislop
Páginas: 365
Editora: Intrínseca
Avaliação: Ótimo